sexta-feira, 10 de maio de 2013

Vinda de médicos cubanos encontra oposição de Conselho Federal

CFM não aceita que eles trabalhem no país antes de fazer uma prova.
Índice de aprovação de estrangeiros é baixo, em torno de 15%.

Fernanda GalvãoBrasília, DF

O governo brasileiro quer trazer 6 mil médicos de Cuba para atuar no interior do país. O Conselho Federal de Medicina não aceita que eles trabalhem no país antes de fazer uma prova.
O acordo de intenções foi fechado em um encontro no Itamaraty. “Trata-se de uma cooperação que tem grande potencial, promissora, e à qual também atribuímos valores estratégicos”, diz Antônio Patriota, ministro das Relações Exteriores.
A sugestão de importar profissionais foi dada ao governo pela Frente Nacional de Prefeitos, por causa da dificuldade em contratar médicos para o interior do país.
Quase 60% atuam nas grandes cidades. Distrito Federal, Rio de Janeiro e São Paulo têm o maior número de profissionais por grupo de mil habitantes, enquanto Amapá, Pará e Maranhão têm menos de um médico para cada mil.
Ainda não foram definidos os detalhes de como o governo contrataria o serviço dos médicos cubanos, mas a questão mais complicada é se esses profissionais serão ou não liberados da revalidação do diploma. Hoje, é exigido que médicos que tenham se formaram no exterior façam uma prova para poder atuar no país.
O índice de aprovação é baixo, em torno de 15%. O Conselho Federal de Medicina condena o trabalho de estrangeiros sem passar pelo exame. “Tem que se avaliar a competência do profissional que vai exercer a medicina no país. Temos exame para isso, o revalido, que, infelizmente, tem mostrado que a maior parte dos médicos que vêm da Bolívia e de Cuba não tem condições de exercer a profissão”, afirma Carlos Vital, presidente em exercício.
Wesley Soares, médico brasileiro formado em Cuba, diz que os profissionais de lá estão aptos a trabalhar aqui. “Eles estão altamente preparados com foco humanitário, com uma visão integral de saúde, baseada na prevenção em saúde”, diz.

Um comentário:

  1. Lembra o antropólogo Roberto DaMatta, que, em determinadas circunstâncias, a simpatia e a cordialidade podem afastar um pouco as pessoas das suas “verdades”, “fazendo com que elas sejam novamente razoáveis, inseguras, abertas e dispostas a serem pontes em vez de trincheiras”.
    As atuais discussões sobre o Mais Médicos estão a nos exigir um pouco desta cordialidade e distensão de espírito, a nos tirar das nossas trincheiras e a nos tornar, tanto quanto possível, construtores de pontes. Neste contexto, talvez devamos admitir que:
    - como demonstram as pesquisas, a maior parte da população - e respeitáveis formadores de opinião - embora com ressalvas, são favoráveis ao Mais Médicos;
    - o programa, ainda que repleto de inconsistências e suspeitas, atende à expectativa da população. Como disse alguém: “quem vive nos rincões sem assistência médica, não quer ouvir argumentos, quer somente a presença de um médico”;
    - o “povão” valoriza muito mais a figura do médico do que nós, os médicos, pensamos;
    - o Mais Médicos pôs em discussão um assunto fundamental que estava sendo injustamente esquecido: a necessidade urgente de se levar atenção básica de saúde às regiões carentes;
    - a discussão do Mais Médicos no Congresso é uma excelente ocasião para a aprovação de medidas necessárias ao aprimoramento do setor público, tais como, o financiamento do SUS, a carreira de estado, a reforma dos currículos, a universalização da Residência Médica, etc.

    Em boa hora, o Conselho Federal de Medicina resolveu “deixar a trincheira”, dispôs-se a negociar e, com esta atitude, conseguiu avanços importantes no Programa Mais Médicos.


    Marcio Meirelles

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